E se?

E se envelhecer for uma glória? 
E se o tempo espelhado, gravado, inscrito sobre a superfície do nosso corpo for o mais notável testemunho do quanto vivemos? Do quanto fruímos, sofremos, rimos e amámos?

Para quê passar a vida a tentar manter intacta a juventude, quando o único modo de ela permanecer intocada é preterir o tempo em troca de uma eternidade que tudo consome?


terça-feira, 21 de setembro de 2010

Carta 14: A propósito de outras imagens e de outras peles — Sobre o livro de Vera Castro

Já aqui contei, há uns meses [http://cartografiaintima.blogspot.com/2010/05/carta-1-ao-fim-de-muito-tempo.html] como começou a gizar-se o projecto de Os Cinco Sentidos, tudo tendo partido de um conjunto de pinturas de Vera Castro. Por isso mesmo, e porque a Vera nos deixou há alguns meses, não queria deixar de escrever umas breves linhas sobre o seu livro. Que saiu ontem, mesmo à beirinha do fim do Verão.



"O Papel da Segunda Pele" é uma edição póstuma de um trabalho que a autora não conseguiu concluir, tendo sido para isso indispensável o papel de alguns amigos. Mas, no muito que deixou feito para este volume sobre o mundo do figurinismo em Portugal, de que ela foi também um dos mais destacados nomes, mostrou realmente o quanto ela sabia ser generosa. Apagando-se, dando voz aos outros e às suas criações, o que nos deixou em legado é muito bom. Fica apenas alguma pena de ela não ter deixado também os seus próprios trabalhos...

É difícil não lembrar a Vera, com a sua voz suave e o seu ar de rapariguinha, mesmo já com 60 anos, leve e luminosa, boa ouvinte e com um toque de timidez. Sempre vestida de um modo que me fazia lembrar a frase de Blaise Cendrars a propósito da Sonia Delaunay: Sur la robe elle a un corps. Vera, toda elegante, fazia brilhar a roupa e a roupa devolvia-lhe a sua pele com toda a serenidade dos gestos.
Gostei muito do título do livro, por isso mesmo. Porque me parece muito evidente mas muito acertado.
Gostei muito também que os amigos tivessem sabido manter este projecto até à sua concretização.

Também gosto muito do resultado final e acho que a Athena/Babel fez um bom trabalho.

Falta-me só uma coisa.

Tenho saudades da Vera.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Carta 13: A propósito das imagens

Todos conhecemos a máxima "uma imagem vale por mil palavras". Tendencialmente estou de acordo, mas devo ressalvar que depende, obviamente, da imagem. De qualquer modo, é de algumas delas — das que valem até mais do que mil — que quero falar.

Há vários anos escrevi um livro de contos com o singelo título de "Contos do Princípio". Andava muito em torno de questões simbólicas, e diverti-me muito a escrevê-lo. Um dos contos desse livrinho, o primeiro de todos a ser escrito, intitulado "Os Barqueiros do Rio Cheio", foi escrito um pouco de jacto, tinha eu 21 anos e acabava de chegar da Alemanha, onde tinha comprado um sem número de cadernos chineses forrados a seda e cheios de bonecos cuja tonalidade (e, diria, movimento) mudava de acordo com a exposição à luz. Foi inspirado na capa de um desses cadernos que o conto saiu assim de jacto.
Quanto ao mais, o livro demorou imenso tempo a ficar completo, apesar de apenas incluir cinco narrativas (mais 4 para além dessa) e de serem todas bastante simples. Terminei-o em 1994, dez anos depois de o ter iniciado. Algum tempo passado, vi numa galeria já extinta de Lisboa, uma exposição do Manuel João Vieira (para os mais distraídos, actual candidato à presidência da República, um rapaz da minha idade, e que tem o meu apoio, claro está!). Para minha grande surpresa, no meio do caos da exposição (as telas estavam encostadas às paredes e acumulavam-se junto ao chão, discutindo o espaço com os visitantes na inauguração e ao longo de todo o período expositivo), havia um quadro que contava a história toda desse livro, com a maior das naturalidades. Sempre pensei que se algum dia o livro fosse publicado, me encheria de coragem e iria pedir ao Manuel João para me deixar usar o quadro como capa. Infelizmente, não sei o título do quadro e duvido que o Manuel João, com as actuais preocupações político-artísticas, me contemplasse com a sua aceitação.
Anyway...

Quando comecei a escrever a Cartografia, como já aqui contei, tinha na mente algumas imagens da Vera Castro. Porém, com o desenvolvimento da estória, o quadro que a protagonista e o tio vêem em Londres, na National Gallery, é um retrato que, actualmente, se encontra na Gulbenkian (enfim, actualmente, está em Madrid, numa exposição temporária sobre a obra do Ghirlandaio, seu autor).
Como é um quadro que ocupa parte importante das reflexões da personagem, pensei sugeri-lo como capa para o romance. Mas, tive receio de duas coisas:
1. que fosse tomado como presunçoso;
2. que, sendo inicialmente aceite a ideia, fosse por fim recusada por serem altos os direitos a pagar.



É este o quadro. Chama-se "Retrato de uma jovem" e é da autoria de um pintor italiano do século XV, chamado Domenico Ghirlandaio.

Quando o meu editor me pediu para ir pensando em capas para o livro, mais concretamente em ideias para imagens, eu bloqueei. Que imagens? Quando ele, por fim, mencionou que podia, por exemplo, ser um vestido, houve, de imediato, outra imagem que me veio à cabeça e que, de certo modo (ou, melhor dizendo, do modo certo), apontava na direcção da minha estória. É ela a pintura de Paula Rego, "A Prova".
Escusado será dizer que bloqueei pelas mesmas razões que me haviam levado ao silêncio no caso do italiano.




Enfim... agora, quase dois anos depois, tenho mesmo pena de não ter tentado.

Mas, enfim, aqui ficam partilhadas mais essas coisas íntimas que ficam fora da estória publicada.
É verdade que há imagens que valem mil palavras (até um milhão ou mais) mas também há outras que não valem sequer que digamos nada sobre elas. Ou que, pura e simplesmente, nos deixam na boca um sabor a pouco. A demasiado pouco.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Carta 12: A escolha dos livros

Acho que foi em 1984, ou perto disso. Li numa revista uma recensão sobre um livro que se chamava "O Amante". Era de um escritora francesa, que tinha crescido na Indochina. Chamava-se, já toda a gente percebeu, Marguerite Duras.
Lembro-me da surpresa dessa escrita. Frases fragmentadas, cheias de luz e humidade, com vagos verdes flutuantes e sussurros. Nunca tinha lido nada assim. Foi um choque e uma sedução que ficou. Depois desse, li inúmeros livros dela. E escrevi também sobre ela. Quando comecei a escrever recensões sobre literatura, no extinto "O Jornal", em 1989, já tinha lido quase 20 livros dela. Na redacção, só havia uma pessoa que tinha lido mais livros dela do que eu (não que isso fosse uma coisa de medir, mas porque foi a descoberta de um fascínio partilhado): a Dóris Graça Dias. Mesmo não a conhecendo, gostei dela só porque ela gostava da Duras. E de livros. O que era muito claro.
A Duras tem-me acompanhado, embora nos últimos anos a tenha visitado menos. Mas continua a ser um dos meus mais queridos prazeres. Há muitos anos, quando eu ainda me desgraçava na Feira do Livro, antes de haver fnacs e amazons da nossa perdição, já tinha decidido que não ia gastar nem mais um tostão quando vi, em livro do dia, uma provocação irrecusável: um livro da Duras e logo com o desavergonhado título de "Emily L."! Sinceramente! Um livro dela com o meu nome! Tive de o comprar. Claro está.
Como esse, li apetecidamente tudo (ou quase tudo) o que dela me veio parar às mãos. Acho que nenhum outro autor fala da água como ela. Mas há outras coisas. Lembro-me, por exemplo, de ter lido "Dez horas e meia numa noite de Verão". Um livro quase sem água. Um livro que me pareceu azul escuro. Escuríssimo. Mas não negro. Apenas azul profundo. Algures no meio da narrativa, surgia a palavra trigo. Lembro-me perfeitamente de onde estava: no momento em que lia esse livro, no momento exacto em que surgiu a palavra trigo, eu estava sentada no eléctrico 28. Ia a passar na Afonso III. Ao fundo, o Tejo. Era o fim da tarde. Eu levantei os olhos do livro porque ela conseguiu que, no meio de todo aquele azul escuro, a palavra trigo brilhasse de um oiro intenso. Fiquei toda a tremer! Alguns mais cínicos poderão dizer que isso me foi infundido pela capa do Matisse, mas e se foi? A adequação era total e a escrita não perde nada de cromático nem de lumínico por isso!
Bem, já se percebeu que a escritora me toca. No entanto, houve um livro ao qual eu resisti durante anos. Chama-se "Moderato Cantabile". Já contei esta estória, mas vou contá-la de novo: tentei ler esse livro umas seis ou sete vezes. De todas as vezes o abandonei. Havia duas personagens que se encontravam numa tasca. Conversavam. E bebiam copos de vinho tinto. Durante anos, eu não consegui suportar o cheiro do vinho tinto. Por isso, era-me também impossível bebê-lo. Por isso me era impossível ler aquele livro, cujas palavras derramavam vinho de cada vez que lhes tocava.
Passaram mais anos. Um dia, já eu tinha há muito passado dos trinta, aproximei-me da estante. Quase posso garantir que o livro me disse: "é hoje". Peguei nele e li-o, apaixonadamente, de fio a pavio. Nem queria acreditar que nunca o tivesse conseguido ler antes. O odor a uvas maduras encheu-me a boca. As conversas fluíam e o tinto corria sobre a mesa, num livro todo ele da cor do mar de Homero. Uma coisa incrível. O livro chegou ao fim. E, a partir desse dia, eu passei a gostar de vinho tinto.
Não há vez nenhuma que, ao saborear um tinto, eu não faça mentalmente um brinde à Duras.
Acho que um bom livro é também isso.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Carta 11: O tempo (breve nota)


Em 1988, para o catálogo da Exposição Antológica de Paula Rego na Fundação Calouste Gulbenkian, John McEwen, no final da entrevista, colocou à pintora algumas perguntas sobre o tempo. Porque as respostas me tocaram especialmente, aqui fica a transcrição dessas linhas.

“— Há trinta anos que vem pintando — a idade e a experiência acha que são coisas que ajudam?
“— Ajuda, sim, ajuda. Já mais capacidade de concentração, tem-se uma ideia muito mais nítida do que se pretende fazer. […]
“— Quer dizer, a idade é outra libertação.
“— Para os homens não sei — nas mulheres acho que liberta imenso.” 

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Carta 10: Alguns lugares da memória


I

Desde pequena que gosto de casas. É uma verdade simples. Ligo as casas aos cheiros, às presenças, às sombras. Mas também às possibilidades. Como se as casas tivessem uma vida própria. Que se revela nos móveis, em quem os move, os usa, os limpa e enche de objectos. E que se revela em quem a habita, também. Mas também — e se calhar sobretudo — que se revela nas paredes, nos tectos.
Sempre gostei de pensar as minhas casas. Ao longo da minha vida, já fiz e refiz várias casas na cabeça, arrumando nelas as coisas do quotidiano e ornando-as das coisas raras que se colhem nas múltiplas viagens. Sobretudo das que nunca fiz. Por isso, de todas as coisas que já pensei para as minhas casas, com as minhas casas, uma coisa continua a atrair-me enormemente: o tecto branco, como uma folha lisa, para o qual olho quando me deito a sonhar e no qual sonho mover-me.
Esse é um exercício que continuamente faço, um gosto que nunca perdi. Já perdi outros. Por exemplo: caminhar no outro lado do espelho, costume que levei a cabo com alguma insistência, durante algum tempo da infância, quando me observava a adentrar-me no espaço simétrico ao real, habitando o reflexo com a consciência de o estar a fazer. A magia do desconhecido não era estragada pela impossibilidade de percorrer, visualmente, as divisões que saíam do ângulo de visão do espelho. Antes, era continuada. Mas enfim esse hábito perdeu-se no tempo. Passei a cultivar, outrossim, as viagens interiores — sem necessidade do espelho. Para isso, os tectos em branco servem-me na perfeição. Navego sobre eles com  o cuidado de jamais macular a alvura que os torna apetecíveis, espaços que potenciam a minha imaginação. Elevo os pés para ultrapassar a barreira das ombreiras. E deslumbro-me com a possibilidade de encher esses lugares de coisas. De os encher sem jamais os tocar, sem jamais tocar os objectos com que proponho torná-los habitados, enquanto, lá em baixo, no chão, no território da plausabilidade e da acumulação histórica, se amontoam objectos e obrigações.
Por exemplo: cá em cima eu não cozinho, não lavo loiça, não limpo o pó, não faço compras. Cá em cima o espaço do abismo apenas existe na exacta medida da viagem para a qual não é necessária bagagem outra que a da alma. 
Por todas estas coisas, o espaço do tecto é um lugar onde o desenho impera. Tudo nele é possível. Todas as coordenadas, todas as linhas, todas as cores. Sei isso porque o branco permite que nele tudo se inscreva. Até a noite. (Imagino sobre ele o céu que varia de cor de acordo com a hora do dia). Mas sobretudo o silêncio.
Também não sei porquê, mas no tecto não careço de palavras. É um espaço de libertação.

II

Avancei pela casa ressoando os passos no passadiço. Em qualquer outra paisagem, este passadiço levaria provavelmente a um lago. Junto a ele haveria um barco, ou então, da sua beira, eu poderia saltar para dentro de água, como acontece tantas vezes no cinema. Mas aqui o passadiço apenas leva ao interior da casa. Por isso posso com certeza dizer que no interior da casa, no meio, como num coração, num eixo (se fosse uma árvore, esse eixo seria, simbolicamente, o caminho para o céu; como não acredito na transcendência, seria o caminho do azul; apenas uma cor ou uma distância), começa a viagem. Dentro da casa começa a viagem.
O espaço em redor é branco. Branco do tecto, das paredes, do chão. Branco como quem tem pela frente o mundo no início. A casa como possibilidade.
Páro na beira do passadiço e olho para dentro da minha vontade da casa. Aqui tudo é possível. Em redor, como a voz que de mim poderia vir, sons misturam-se. Tornam-se brancos. Silenciam-se por vezes. Como se respirassem. Tomassem fôlego.
Mergulho, não mergulho? Não posso mergulhar. Não faço parte integrante, como elemento físico, deste amplíssimo leque de possibilidades. Fecho, portanto, os olhos e viajo por dentro, tomando a casa como parte de mim, não o inverso.
Reabro os olhos para não cair. Faço com cuidado o trajecto em sentido inverso. Cá fora, no pátio, os espelhos que reflectem os meus passos, o meu corpo, casa das minhas vontades, dos meus abismos, das minhas possibilidades e impossibilidades, dão-me mais próximo o céu.

As flores de laranjeira estão em pleno processo de sedução. As laranjeiras do pátio encontram-se por isso continuamente rodeadas de abelhas. Movo-me em torno a elas, com o prazer e o respeito devido a quem permite o perfume mas também potencia a dor. Não quero acordar esta última hipótese.

III

Num canto do jardim chegou a notícia. Não foram estas as palavras mas o seu sentido indiciou a quebra de um elo com a casa. Com a morte da minha tia, o último fio que me ligava às memórias das férias em Lagos, ficou lenta e inexoravelmente perdido num ponto inalcançável. Nunca mais eu poderei exibir, descendo a rua e acenando-lhe enquanto ela fica à porta, a relação íntima com a cidade. Passarei a ser, como qualquer outro visitante, alguém que a cidade recebe por cortesia, não por familiaridade. Não por laços de sangue. Dói-me essa perda de sentido que se amplia no vazio das paredes, dos sons que não voltarão a soar, as vozes, o relógio de parede na sala que foi dos meus avós, o zumbido das abelhas do verão torneando o perfume e o vermelho das rosas. Por trás delas e em redor havia o muro caiado do jardim. E aí eu tinha os medos, os sustos, os encantos dos gatos jovens que costumavam aparecer e fugir rente à cal, sem temer os espinhos que me impediam de os seguir.
Perder o direito à casa é perder o lugar na cidade. E assim se vai, sem que eu possa deitar-lhe a mão, a minha identidade enquanto ser do lugar.

Porém, esta que agora perco não era já casa da minha infância. Esta não tem jardim. Apenas um saguão no primeiro andar, e um generoso terraço no segundo piso, com uma vista sobranceira para algumas ruas vizinhas. A outra casa desapareceu há muito. O sítio permanece, é claro, mas a arquitectura mudou. Por fora, pelo menos; e é aceitável supor que por dentro se alterou mais ainda. Na ânsia de ganhar quartos, não sei se terão abdicado do velho espaço dedicado às rosas. Curiosamente, essa casa eu não perdi. Há muito que me resignei a guardá-la na memória. Para o melhor e para o pior. O mesmo é dizer que há muito a habito quando quero, a visito quando posso ou a isso sou obrigada. Porque há também imposições nas memórias. Não recordamos apenas os dias de sol.
Essa casa, que eu não perdi porque a deixei fisicamente há muitos anos quando muitos membros da família ainda eram vivos, permanecerá sempre a minha casa de férias na origem do meu gosto pelo cheiro da cal.
Aí arquivei outros sons, outras vozes. O mesmo relógio de parede, contudo. Alguns móveis que, comigo, fizeram a passagem para a outra casa. As velhas cadeiras onde os meus avós se sentavam. A que mais cedo perdeu o seu uso, na morte da minha avó de quem herdei o nome e a data de nascimento do meu filho. Sei, por ter ouvido contar, que o meu avô guardou nessa cadeira a dolorida ausência da companheira de quase meio século. Quanto tempo terá levado a que alguém voltasse a sentar-se naquele assento?
Quando também o meu avô abandonou o seu lugar, as cadeiras mudaram de casa. E a sua arrumação no espaço novo deu-lhes um novo papel e quase uma nova vida. As minhas tias sempre temeram os fantasmas e por isso deixaram para trás essas memórias. Contudo, não deixaram nunca de ser assombradas. Não tiveram nunca a coragem de ser assombrosas. E misturaram os móveis velhos com novos, em divisões diferentes, dividindo as lembranças pelo espaço, para as enfraquecer, para reinar.

IV

Por mais que pense, não sei muito bem até hoje quem foi esta mulher que hoje morreu. Sei que, lá em baixo, junto ao mar em que ela nunca mergulhou em adulta por pudor e frio, e que há anos não olhava de frente, ela fechou hoje os olhos pela última vez e adormeceu. Não voltou a acordar e assim nos disseram que morreu. Sozinha, entre quatro paredes, sentada num sofá no qual se sentava para ver televisão. Sozinha, depois de ter reduzido a sua vida a tratar de todos os mais velhos da família e a vê-los morrer, um a um, como as contas de um rosário.

V

No fim do passadiço olho o branco em frente, iluminado a amarelo, como um sol interno que nasce no interior da casa. Olho-o e ouço os rumores. Água. E na beira do passadiço não posso deixar de pensar que ela morreu e que eu nunca mais poderei voltar à casa onde ainda permanecem as memórias dos verões da minha infância.

VI

Eis de novo a casa onde ela adormeceu, fechou os olhos pela última vez. Uma casa caiada, paralelepípedo integrado na malha da cidade. Com terraço sobre as ruas para melhor ver o seu pulsar. Essa foi uma das razões pelas quais elas escolheram esta casa, há exactamente trinta anos, depois da morte do meu avô. Depois de também ele ter deixado vazio o seu lugar. Porque aqui estavam no centro da cidade, na rua do cinema, numa casa com janelas de onde podiam ver passar os amantes da sétima arte, no fim das fitas. Elas ficavam à janela, viam-nos passar e sonhavam com essas vidas que deviam ser quase tão monótonas como as suas. Vista de fora uma casa são apenas traços e gestos destinados a erigir um lugar, não é? Que imaginariam elas vendo o mundo do parapeito? Não posso deixar de pensar que a palavra que apára o peito, que lhe dá descanso, as amparou na queda de todos os sonhos, como também lhes impediu a respiração dos desejos, o culminar das vontades, a por vezes poderosa alegria da queda.
A casa prendeu-as. Como posso ser nostálgica em relação a um espaço assim?
Um dia uma delas disse-me: estou a aprender francês. Mostrou-me um caderno com frases alinhadas, verbos conjugados, notas para uma viagem que ficaria sempre por fazer. Gostava de ir para França, pintar porcelanas em Sèvres. Sorrimos. Foi uma das raras vezes em que a vi com a bonomia da cumplicidade. Lembro-me perfeitamente do sítio em que nos encontrávamos. Um quarto estreito, no último andar, ao lado do terraço. Não tinha janelas, apenas uma fresta, lá no alto. Como se fosse um indício. Depois da sua morte, a irmã invadiu essa divisão com o lixo dos dias que passavam. Que terá feito ao caderno? Um dia, falei-lhe nisso. É mentira, respondeu-me sem qualquer pudor. Ela nunca quis sair daqui. Claro que quis. Até aprendeu francês. Seguia regulamente as aulas na tele-escola. Eu sei. Ela disse-me. Mostrou-me o caderno. É mentira, é mentira, é mentira. Porque haveria ela de querer sair daqui? Que disparate.
Não sei do caderno. E a verdade é que nunca quis que ele aparecesse. Mas devia tê-lo procurado. Só para ter um motivo para voltar a abrir aquele quarto a uma resposta. Agora irá ser esvaziado. É preciso entregar a casa. E já não adianta provar que eu tinha razão.
Como há trinta anos, os meus pais irão esvaziar uma casa. No silêncio dos mortos. Mas nessa altura, havia ainda muita gente da mesma geração. Duas tias, um tio. Muitos amigos na cidade. E esta casa que ainda se encheu. Agora a única casa que resta e com a qual nós vamos passar a ter uma relação é só um paradoiro de férias. Sem habitantes permanentes. Sem quotidiano. Sem promessas nem abismos. Tão estéril quase como um hotel. Como a de qualquer outro ser que por aqui passe e venha a águas.
Deixei de pertencer definitivamente a este lugar.

VII

Não posso deixar de me lembrar de outros episódios, como se a casa se organizasse para me passar as suas memórias. Foi no mesmo quarto, antes ou depois dessa confissão, da partilha do segredo do caderno. Ela tinha uma ideia para um romance. Contou-ma. Era de noite e chovia. Sob uma terrível tempestade vislumbra-se no alto de uma falésia um castelo. À sua porta bate, exausto, um viajante.
Era de dia. Agosto e o céu lá fora era azul e o sol brilhava. Lembro-me de ter de imediato rejeitado tal cenário como literário. A sua era uma estória de amor. Inspirada em muitas, já lidas, já vistas, sem nada de novo nem arrojado com as conchas que ela recolhia na Meia Praia e nas quais pintava paisagens miniatura, que oferecia às amigas, e que deixava espalhadas pela casa, recolhendo o pó. Nunca me agradou o imaginário dela, cansado e poeirento. E no entanto ela pintava os olhos de negro e os lábios de vermelho antes de sair para a rua, punha brincos a condizer com o resto, ajeitava a figura e compunha o andar. Escolhia os óculos de sol. E descia a rua do cinema. Não me lembro de ela alguma vez lá ter ido. Não teria companhia? A quem posso perguntar agora?
A outra ficava em casa, costurando no sofá.
A nenhuma delas um vestido de noiva, um ramo de flores de laranjeira. Nunca suportei o cheiro a pó desta casa. Na mesma sala onde ela fechou ontem os olhos pela última vez, disse-lhe eu há uns anos: estou grávida. Vou ser mãe. Ai que bom filha, cheguei a pensar que era uma maldição nesta família as mulheres ficarem todas por casar. Sim, mas eu não casei, tia. Vou ter um filho. É mais importante, não? A cara dela ficou sem expressão. E depois de um silêncio disse apenas: não vou dizer a ninguém que estás grávida.
Olhei para ela e não levei a mal. Eu estava muito feliz. Não por ter quebrado qualquer maldição, em que jamais acreditei. Mas por ter realizado um sonho. O meu sonho nunca foi um vestido. O delas sim.
Nessa noite abracei-me a um homem. Na nossa casa. No nosso quarto. Na cama que foi dos meus avós paternos. Pensei que, para lá das aparências, o meu avô iria ficar feliz por esse bisneto. A minha avó não sei. Talvez tivesse amargado mais o vazio das filhas. Fiquei feliz quando o meu filho nasceu no mesmo dia em que a minha avó, que me deu o nome, tinha o seu aniversário.
Olho para o tecto. Branco como um sítio por escrever. Sem pegadas, nem rugas, nem quaisquer sinais de passagem. Mas a casa está cá em baixo. O tecto, como um texto, é só um pretexto para eu poder sonhar. Só que esta noite eu tenho medo de dormir.

VIII

O velório vai ser já amanhã. É tudo muito rápido. A polícia ficou tranquila com o depoimento da família. Não foi crime. Apenas uma mulher que se entregou ao fim, no cabo de uma vida, coisa simples. Fechou os olhos. Adormeceu. Não voltou a abri-los. Não é por isso que receio adormecer. É só porque não quero ter ilusões. Sem saber como, expliquei ao meu filho aquilo que nem eu própria percebo com clareza.
Amanhã, no velório, revisitarei o perfume das rosas. Nada de literário, apenas a realidade. O velho quintal da casa dos meus avós faz muro com a casa mortuária. Por isso, para nós, os crescidos, será um pouco como reencontrar os fantasmas do passado. A minha irmã não tem lembranças dessa casa. E não precisará de explicar nada à filha, cujo nascimento dissipou de vez qualquer ideia de maldição quanto à continuidade da família, na cabeça da nossa tia.
Sei que as rosas já lá não estão, como não estão os gatos, como não está o cheiro dos bolos, do leite com chocolate então tão raramente permitido. A cozinha não tinha porta, só uma cortina que dava para um breve corredor de onde se podia sair para o quintal. Um pequeno alpendre, uma torneira, um canteiro a toda a roda. E as flores. E os pequenos bichos. O cheiro da cal, sob o sol, no Verão.

Dobrando a pequena casa mais tarde construída para os banhos, e passando pela outra casa de bonecas onde as costureiras trabalhavam no tempo quente, descia um corredor. Ao fundo, uma porta de madeira poderia abrir directamente para a rua, se velhos trastes não se tivessem amontoado ali por ser saída sem interesse. No termo do passadiço eu fecho os olhos e estou de novo em Lagos, pequena e em pleno Verão. Sinto o cheiro da cal, há ruídos em volta, um rumor de água e lá fora, junto aos espelhos que reflectem o céu, as laranjeiras estão em flor.
Quando somos pequenos o mundo não é só maior. É sobretudo mais novo. Mais liso.




Não consigo deixar de ter um absoluto sentimento de perda em relação ao lugar. A continuidade que eu quis passar ao meu filho não está posta em risco, contudo. Temos outra casa, na mesma cidade. Nessa casa, passamos férias, com menos frequência do que eu gostaria. Mas ele tem já uma série poderosa de memórias associadas ao lugar. Tal como eu, ele lembrar-se-á das manhãs claras de verão, com as rasas ondas como riscos de luz sobre a areia na maré baixa, na Meia Praia. Tal como eu, ele cultiva já a paixão pela cidade. Fingindo que não vemos o monstro que nos devora o coração e que avança, com simulacros de habitação, sobre a paisagem. Apesar de saber que lá estão as sementes do silêncio, temo com frequência que o ruído os abafe um dia e consigo apague todo o fulgor do branco que lhe quis dar de presente.


Abril de 2006 [Na morte da minha tia Luísa].

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Carta 9: Algumas outras inquietações

Não tenho uma memória dourada da minha infância. Não que tenha tido uma infância infeliz. Pelo contrário. Acho mesmo que tive uma infância boa. Entre outras coisas, incluindo as essenciais (saúde, família, casa, comida), tive por perto vários contadores de estórias. Os meus dois avôs, a minha tia Rosa, o meu pai. A minha mãe também, sobretudo a partir de livros. Os outros eram mais dados à tradição oral. E à encenação do contado.
Também conheci alguns mentirosos compulsivos. Que é, como se sabe, uma maneira de contar estórias. Às vezes tinham graça. Outras vezes não tinham graça nenhuma. Mas desses falarei (notem o verbo, tão desadequado ao silêncio apenas cortado pelos meus dedos que teclam...) noutra ocasião. Agora irei contar-vos outras coisas. Outras memórias. De como a minha infância foi também povoada de medo.
Como todas as crianças, penso eu, a minha imaginação era a minha principal inimiga. No corredor da casa dos meus pais, a casa da minha infância, havia muitas portas e pouca luz. Ao fundo, um roupeiro enorme, com três portas que, com o tempo, foram deixando de fechar completamente, anunciava mais perigos. Monstros e afins.
No meu quarto, a primeira porta à esquerda assim que se entrava no corredor, havia outro roupeiro e, naturalmente, o problema repetia-se. Além disso, os cortinados pesados e opacos poderiam sempre esconder presenças mal intencionadas. Como se isso não bastasse, havia o medo do escuro, o dos monstros atrás da porta — o que me levou a desenvolver a célebre técnica dos desenhos animados de abrir a porta com toda a convicção, para esborrachar, sem apelo nem agravo, qualquer monstro parvalhão que se escondesse nesse espaço — e, pior que tudo, crocodilos debaixo da minha cama.
Nunca consegui explicar por que razão haveria eu de ter crocodilos debaixo da cama. Ainda hoje não sei se tal fenómeno se deveria ao meu fascínio por um livro de répteis, ou se por causa do Peter Pan e do crocodilo que tinha tragado, com tanto apetite, a mão do capitão Gancho.
Como se isso não bastasse, também, o prédio em que nós vivíamos ficava mesmo em frente a uma quinta de árvores altas e frondosas. Nas sombras que nela se avolumavam com o cair do dia via eu o território ideal para a proliferação de monstros da pior espécie.
A ajudar à festa, a minha tia Justina gostava de me aterrorizar, confirmando os meus piores receios. Como, nesses anos, eu era uma niquenta de primeira água, ela ameaçava o meu sossego garantindo-me que, à noite, os lobos que viviam na quinta se enfiavam nas escadas do prédio determinados a perseguir e  mesmo a comer os miúdos que não se tinham alimentado em condições.
À noite, depois de deixar os meus pais na sala, eu avançava desesperada a caminho do corredor. Tinha de passar pela porta de entrada e escutava, paralisada, o que me parecia ser o evidente indício da presença dos lobos subindo as escadas ou rondando já a minha porta. Depois, avançava pelo corredor, tentando, a todo o custo, não olhar para as portas do roupeiro do fundo, por entre cujas aberturas temia ver já os olhos vermelhos das bestas, esperando a minha passagem. Transposto este obstáculo, abria a porta do quarto, tacteava a parede para acender a luz e empurrava a porta com toda a alma. Uma rápida olhadela pelo quarto confirmava que estava livre de animais selvagens. Nos dias mais afoitos, chegava a baixar-me para verificar bem por baixo da cama e mesmo atrás dos cortinados. Mas nos dias mais difíceis, deixava, porém, por verificar esses espaços menos visíveis. Despia-me o mais rapidamente possível, enfiava o pijama e saltava do cadeirão para cima da cama como se passasse de uma embarcação para outra, num rio ou num mar pejado de monstros de bocas abertas desejosas de me filarem a dentuça.

Fora de casa, os medos tinham outros contornos e as ameaças outros rostos. Podiam ser os dos miúdos ou miúdas que gostavam de exercer o seu domínio sobre os outros (eu estava incluída entre esses "outros" que, com alguma frequência, levavam umas chapadas sem perceber porquê), podia ser a professora da primária, a tal Rita de que ainda voltarei a ocupar-me, podia ser muita coisa.
Em resumo, as memórias da minha infância só são douradas na luz que certos dias guardavam. Por isso, discordo da minha amiga Ana Barata quando diz que a infância é o melhor tempo da vida. Onde ela vê inocência e liberdade, eu vejo ignorância, medo e dependência. Tal como em relação à adolescência, gostei de ter passado por lá (aliás, que alternativa haveria?) mas estou sobretudo contente de ter(em) ficado para trás. Não sou nostálgica em relação ao passado. Não como um todo.

Estas memórias têm sido ultimamente avivadas pelo facto de andar a ler sobre a Paula Rego e a ver imagens de obras dela. Ainda eu não tinha começado a estudar história da arte e já gostava do trabalho dela. Não porque o achasse "bonito", mas porque o achava inquietante. As primeiras obras que vi dela foram as óperas. Já foi há muito tempo. Mais tarde, conheci a série do Macaco Vermelho. E depois outras obras. A série das miúdas a brincar com os cães. E depois outras. Muitas. Em todas elas eu reconheci partes da minha infância. Das estórias contadas ou dos terrores vividos. A Paula Rego disse-me, com essas obras, que eu não era esquisita por achar que a infância não é uma época dourada. O medo a que ela deu face pintando, como disse Alberto de Lacerda, era também, em muitos aspectos, o meu. Mesmo que eu nunca o tenha pintado.

A propósito da entrevista da Ana Sousa Dias e de mais coisas...

Como já é público, o meu conhecimento sobre os homens é muito básico. Diria, para que fiquem todos igualmente contentes, que o meu conhecimento sobre as mulheres não é muito mais substancial. Na realidade, o humano, embora não me seja estranho no seu todo, mantém sobejos mistérios. Em ambos os géneros.
Contudo, parece que algumas pessoas são mais rápidas a catalogar e a arquivar (será que também a compreender?...permito-me duvidar) do que eu. 
Uma pequena história. No dia do lançamento da "Cartografia Íntima", e estando presentes no auditório da FNAC do Colombo algumas dezenas de convidados, entre os quais eu arriscaria uns 35 a 40% do género masculino, um senhor brindou uma amiga minha com uma pergunta em tom indignado: "Isto é uma coisa para fêmeas, não é?". A minha amiga ainda respondeu com toda a simplicidade: "Não, acho que é para todos." Mas ele, olhando em volta, sentenciou em tom definitivo: "Não. É uma coisa para fêmeas!". E saiu a toda a pressa. 

Pergunta: que saberá ele das "fêmeas" que nós desconhecemos?


A propósito destas escritas

Na pasta que tenho no computador sobre os cinco sentidos, há vários documentos sobre a possível organização deste projecto. Primeiro, quando tudo começou, como um conto. Depois, como um conjunto de cinco contos. Mais tarde, como um projecto de cinco romances.
No meio desta série de documentos, as minhas notas sobre a ordem de entrada em cena dos sentidos é um dos aspectos que mais me diverte. Porque tal como se altera substancialmente o modo como, a cada momento, tentei definir as personagens, as suas biografias e simbólicas, também a ordem dos livros vai variando.
Como é sabido, a escrita tem não apenas ritmos próprios, mas também exigências particulares. E no seu labirinto de fiação, as personagens acabam por nos largar a mão.
Lembro-me sempre de dois romances da Regina Louro ("Que pena ela não se chamar Maria" e a sua sequela "À sombra das altas torres do Bugio"), em que muito claramente a personagem central se solta e chega a intervir na narrativa, interpelando a escritora. Essa tentação — que outros já tiveram mas a que a Regina dá o seu inequívoco e alucinante e contagiante ritmo — surge, no processo da escrita, com mais frequência do que se poderia pensar. Se não a de colocar a personagem a falar connosco (no sentido de ser ela a iniciar esse "chat", como agora se poderia dizer), pelo menos a de entrarmos nós logo em diálogo com ela. Às vezes, até para a pôr no lugar...
Não estou a dizer que isso vá acontecer nestas estórias. Apenas quero com isso sublinhar o modo como as personagens se autonomizam das linhas com que, no início, traçamos o seu destino. Como nos obrigam a repensar a acção a cada página, a sopesar as palavras que dizem (será que esta personagem diria isto? nesta altura, isto poderia passar-se assim? como reagiria esta personagem ou aquela a esta situação particular?), as opções que fazem.
Parte do prazer da escrita é contar uma estória. No meu caso, não sendo uma verdadeira contadora de estórias, mas uma perguntadora, a escrita é mais do que um prazer: é uma necessidade, uma função vital. Não é por isso menos estranho verificar como uma função vital nossa pode ser "habitada" por decisões que parecem obedecer a uma lógica estranha a nós (o que é diferente de dizer "a uma lógica que nos é estranha").
Com a escrita (o tempo do seu processo), "o que podia ter sido e não foi" é progressivamente apagado da memória. Aliás, uma das funções que para mim tem o acto de escrever é não apenas interrogar-me sobre algumas questões que me interessam como libertar-me dos aspectos narrativos de que elas se revestem. Ou seja, é despojar-me delas; abrir outras portas. O esquecimento faz por isso parte do processo. Abrir estos documentos do que têm sido os vários projectos destes cinco sentidos é por isso um exercício de divertimento, estranheza, surpresa e, por vezes, alívio.
O tempo — e as leituras e reflexões que ele permite — é, sem dúvida, um poderoso aliado.
Lembrei-me disto hoje, porque estando a meio do segundo volume tenho várias encruzilhadas pela frente e fui abrir esses documentos a ver se aí encontrava ajuda. Não foi pior nem melhor. O que lá está já não faz sentido. Voltei a ficar sozinha com as personagens e as suas exigências. Logo se verá o que acontece. Como diz o Javier Marías: escrevo para saber como é que a estória vai acabar. Para mim, também é um bocado assim.

Para quem ainda não leu e quiser espreitar as primeiras páginas do livro...

...pode fazê-lo em:
http://www.scribd.com/doc/12970592/Emilia-Ferreira-Cartografia-Intima-Difel-2009

E mais uma impressão sobre o livro

"Desde já  gostei muito, muito do teu romance e sobretudo do tom discreto da tua escrita.

abraço amigo

_______ ZÉ MARTO"



Muito obrigada, Zé.

E ainda mais uma impressão sobre o livro

Como não encontrei maneira de escrever no teu blog sobre a Cartografia Íntima e acabei hoje de a ler, não quero deixar de te dar os parabéns e agradecer-te a partilha do teu olhar sobre este grande novelo no qual estamos todos envolvidos. Será mais um passo certamente para reflectirmos sobre como vamos (ou podemos) deixar a nossa pele e a dos outros, esta última quantas vezes esquecida.
Quando afinal fomos deixando penduradas linhas aqui e ali, umas por esquecimento, outras por distracção, outras nem nós sabemos bem porquê. O que temos que aproveitar são estes fios que nos unem e construir (agora que estamos mais velhinhos) laços dos quais nos lembremos sempre com alegria e amor.
Bjs
A. Barra
PS: A cidade será Lagos?

E mais outra

Olá Emília
tudo bem?Quero apenas dizer-te que adorei o teu livro, de coração e com a toda a sinceridade. Parabéns.É um tipo de escrita que gosto muito, essa de se brincar com as palavras para expõr a profundeza dos sentimentos. Na verdade revi-me em muito na vida de Helena e na forma como a vida se nos escreve na pele e nos marca o coração.Já o recomendei a algumas pessoas e vou oferecer a uma amiga minha minha ah! e obrigada pelo autógrafo.
bjs e fico a aguardar o próximo

Lurdes

Últimas e próximas

Afinal, a Feira do Livro correu muito bem.
Obrigada a todos os que apareceram. E também a todos os que não puderam ir. 


Amigos:

Depois de antecipar, como pior dos cenários, a minha solidão na torreira do sol da Feira, qual Lawrence no deserto (isto se nenhum de vocês lá fosse), comecei a antecipar a possibilidade de um número à Gene Kelly. No caso, Singing in the Rain. Talvez por receio do que isso fizesse pelo livro, fui aconselhada pelo meu editor a adiar a presença na Feira para o próximo domingo 17 de Maio.
Esperemos que o tempo nos deixe fechar a Feira em beleza.
Assim que souber a hora, digo alguma coisa.
 




Feira do Livro de Lisboa, Pavilhão da Difel.
Afinal, vai ser dia 9, às 17h00. Rain or shine. Contei com sol, mas parece que vai estar cinzento. Não faz mal. Lá estarei. Espero que passem por lá.  
Não se esqueçam!




Depois de uma breve conversa com a Ana Aranha, À volta dos Livros, na Antena 1, e de uma passagem pela Maratona da Leitura, na Fnac, no último dia 23, vem agora aí a Feira do Livro.
Em princípio, encontramo-nos dia 10 de Maio. Assim que souber a hora, digo-vos. Espero ver-vos por lá.